Teses e dissertações

Dissertações

Dario Fo, o jogral contemporâneo em Mistero Buffo: uma proposta de tradução teatral – Jéssica Tamietti de Almeida (2017)

Essa dissertação tem o objetivo de apresentar à comunidade acadêmica e teatral a tradução de três textos de Dario Fo (1926 – 2016) que fazem parte de seu espetáculo Mistero Buffo (1969), bem como os estudos, metodologias e saberes que possibilitaram essa experiência e reflexão sobre a sua concretização. Do ponto de vista histórico-cultural, trabalhamos em dois planos aparentemente distintos: o contemporâneo e o medieval. Todavia a figura de Dario Fo os une e, ao longo de sua carreira, o autor e ator italiano se torna um verdadeiro jogral de seu tempo ao resgatar, de forma brilhante e simples, os bufos mistérios medievais para tocar em questões muito atuais, fazendo-nos pensar e enxergar através do teatro as muitas relações possíveis entre esses dois mundos, mesmo que tenham se passado oito séculos até a retomada dessas apresentações realizadas pelo artista italiano. Para tal, utilizamos as reflexões sobre a literatura medieval de Bakhtin e Zumthor. Sobre os estudos de teatro contemporâneo, Pavis é nosso maior referencial por abordar especificamente o teatro na tradução. Para nortear nossas reflexões sobre a prática da tradução, recorremos principalmente às teorias de Berman e Meschonnic. O principal critério que guiou este trabalho foi a busca pela manutenção e respeito da poética específica dos textos teatrais escolhidos, sempre pensando na contextualização para a cultura e o público brasileiro atual. Percebemos que a poética se encontra intrinsecamente ligada, no caso de nosso corpus teatral, à performance, e, por conseguinte, ao ritmo de sua oralidade, que é resultante de uma profunda conexão entre o corpo e a voz do intérprete, que representa sua alteridade.

Palavras-chave: Tradução teatral. Teatro medieval. Dario Fo. Jogral.

Bela, depravada e do lar: como traduzir(am) Tutta casa, letto e chiesa, de Franca Rame e Dario Fo, no Brasil – Amanda Bruno de Mello (2019)

Tutta casa, letto e chiesa (1977) é uma peça de Franca Rame e Dario Fo sobre a condição da mulher profundamente marcada pelos debates feministas que ocorriam desde 1968 e pelos eventos políticos conturbados da Itália dos anos 1960-1970. Foi traduzido para o português como Um Orgasmo adulto escapa do zoológico (1983), por Zilda Daeier e Brincando em cima daquilo (1984), por Roberto Vignati e Michele Piccoli. Este trabalho propõe um estudo da obra italiana com vistas à sua tradução para o português brasileiro a partir do contexto político italiano, do humor grotesco e da linguagem usada por Rame e por Fo. Além disso, uma vez que a tradução de 1983 não foi encontrada, analisa a tradução de 1984, levando em consideração as reflexões de teóricos da tradução tais como Berman, Meschonnic, Pavis e Barbosa. Por fim, por acreditar que as traduções existentes para o português brasileiro mereciam ser atualizadas, o presente trabalho propõe também uma nova tradução integral do espetáculo italiano para o português brasileiro, intitulada Bela, depravada e do lar e baseada na última versão disponível do texto, publicada em 2006, que por sua vez baseou-se no texto usado nas apresentações de 1985.

Palavras-chave: Estudos da Tradução; Tradução de Teatro; Teatro Contemporâneo; Franca Rame; Dario Fo.

Atos de tradução para o monólogo – Contrasto per una sola voce – de Dario Fo e Franca Rame Cristiana Almeida de Sousa (2019)

Esta dissertação pretende apresentar à comunidade acadêmica e teatral o monólogo Contraste de uma só voz, uma tradução do monólogo Contrasto per una sola voce, do casal italiano Dario Fo e Franca Rame, que compõe o espetáculo Tutta casa, letto e chiesa, bem como comentar, a partir de pressupostos teóricos, como se deu esse processo tradutório. Também debruçar sobre a experiência da tradutora, como forma de evidenciar a subjetividade que atravessa o processo tradutório, seja por meio de atos realizados de maneira consciente quanto inconsciente. Inicialmente, as ideias da tradutora Lenita Esteves foram norteadoras, ao conceber, a partir da Teoria dos Atos de Fala do filósofo da linguagem, John Austin, a tradução na sua dimensão de atos, evidenciando o seu caráter performativo. Por se tratar de um texto teatral, com suas especificidades para leitura e tradução, o aporte teórico de Patrice Pavis foi fundamental. É preciso destacar a contribuição do teórico Henri Meschonnic por abordar questões sobre o ritmo do texto e a necessidade do tradutor inscrever-se como sujeito na tradução. Para análise da prática tradutiva, algumas negociações realizadas entre os textos de partida e de chegada foram destacadas e comentadas. Portanto, buscou-se realizar uma tradução, em que o texto de chegada trouxesse algumas marcas do texto de partida, mas que apresentasse, também, marcas culturais locais.

Palavras-chave: Tradução Teatral; Dario Fo e Franca Rame; Contrasto per una sola voce

Teses

Dramaturgia da tradução: construção dramatúrgica nas traduções brasileiras das peças de Franca Rame e Dario Fo disponíveis no acervo da SBAT – Amanda Bruno de Mello (2022)

No presente trabalho, investigamos a recepção da obra dos dramaturgos italianos Franca Rame e Dario Fo no Brasil através da análise das traduções para o português feitas para a cena, isto é, para a montagem de suas peças. Antes de discutir as traduções, traçamos um panorama da vida e da obra dos autores e retomamos as características principais de suas peças (FARRELL, 2013; 2014; RAME; FO, 2009); além disso, retomamos algumas discussões sobre a crítica da tradução em geral (BERMAN, 1995), sobre a tradução de teatro (PAVIS, 2008a e 2008b) e, mais especificamente, sobre a tradução da obra teatral de Rame e Fo (DUMONT-LEWI, 2012; 2016; 2020), propondo o conceito de dramaturgia da tradução, para o qual são fundamentais as reflexões de Dort (1986) e Danan (2010) acerca dos significados mais recentes de dramaturgia, que ampliam as acepções do termo. Não há uma avaliação necessariamente positiva ou negativa inerente à ideia de dramaturgia da tradução, que consiste na sobreposição do projeto dramatúrgico – conjunto de escolhas estéticas, ideológicas e relacionais que antecipam a encenação – dos tradutores àquele do autor. Em seguida, analisamos as peças disponíveis no acervo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) e apresentamos dados, inclusive acerca da recepção crítica, sobre suas primeiras montagens. Na análise, observamos duas questões em particular, correspondentes aos dois desafios principais de quem insere no polissistema cultural brasileiro as peças de Rame e Fo, ligadas às particularidades sócio-histórico-culturais da Itália: a tradução, em português, do conteúdo político e do conteúdo humorístico de seu teatro. De forma geral, consideramos que predominam casos de tradução de dramaturgia – ou seja, de recriação, em outro polissistema cultural, do projeto dramatúrgico dos autores. É na tradução de textos cujo tema central é a condição da mulher – Brincando em cima daquilo (1984) e Casal aberto… ma non troppo (1984) – que predomina a dramaturgia da tradução, assim como no filme Não vamos pagar nada (2020). Além do acervo da SBAT, foram fontes fundamentais para esta pesquisa a Biblioteca Jenny Klabin Segall, a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, o acervo do jornal Folha de São Paulo e o Archivio Franca Rame-Dario Fo.

Palavras-chave: Literatura italiana; Dario Fo e Franca Rame; Recepção; Sistema cultural brasileiro; Tradução de teatro; Crítica da tradução